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Peiex ajuda empresas paraibanas a competir no exterior
Renato Félix
O mercado exterior parecia tão distante para os negócios quanto é fisicamente para muitos produtores americanos. Isso começou a mudar com a instalação de um núcleo do Programa de Qualificação para Exportação (Peiex) na Paraíba, em 2021. Oferecido e gerido pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil), sendo implementado em todo o país por meio de parcerias com universidades, parques tecnológicos, fundações de amparo à pesquisa e federações da indústria brasileira, o Peiex tenta implantar uma cultura exportadora nas empresas, o que exige uma preparação e adequação na sua produção e estrutura de organização interna. A meta de atendimento já foi superada.
“No último dia 3, captamos a 102ª empresa, superando a meta prevista em convênio de 100”, explica Márcia Paixão, professora do Departamento de Economia da Universidade Federal da Paraíba e coordenadora do núcleo operacional do Peiex Paraíba. “Desse total, até o momento, temos 44 empresas com a qualificação concluída, um processo que durou entre quatro e seis meses. As que ainda estão em atendimento serão qualificadas até junho/2023”.
O convênio foi assinado entre a Apex Brasil e o Governo da Paraíba, através da Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba (Fapesq-PB), que participou do processo de seleção em dezembro de 2020 e foi escolhida em janeiro de 2021. A cifra anunciada para o investimento foi de R$ 1 milhão, com o Estado entrando com 30% do valor (R$ 300 mil).
Ultrapassar a marca das 100 empresas atendidas é um feito celebrado por Márcia Paixão. “Minha avaliação é de uma execução plenamente exitosa no alcance de seus objetivos e metas”, comemora. “Entre outros eventos de menor porte, incluindo sete capacitações coletivas, participamos diretamente da organização de uma rodada de negócios internacionais para o setor de cachaça brasileiro, em outubro de 2022. Ao todo, 24 rótulos participaram da rodada, sendo 14 da Região Nordeste e, destas, nove foram preparadas pelo Núcleo Peiex-PB”.
Até o momento, o núcelo fez 12 visitas técnicas a empresas e três a instituições como o Instituto Nacional do Semi-Árido (Insa). “Ainda formamos um comitê consultivo composto por 14 instituições estaduais e nacionais e recém agregamos seis outras”, ressalta a professora. “O papel desse comitê é ampliar o alcance do Peiex no estado, fazendo indicações de empresas com perfil para atendimento e ofertando soluções administrativas, financeiras, operacionais etc., complementando, assim, a qualificação em comércio exterior ofertada pelo programa”.
Paraíba atende também a outros estados
O núcleo Peiex na Paraíba alcança relevância além das divisas do estado, já que não são atendidas apenas empresas paraibanas. “São 30 municípios alcançados da Paraíba e seis de outros estados nordestinos no caso do setor de cachaça”, conta Márcia, acrescentando que são cidades de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco e Rio Grande do Norte. “Ao todo, são 14 setores produtivos envolvidos: cachaça; alimentos e bebidas; mineração e construção; móveis; têxtil e confecção; utensílios domésticos; máquinas e equipamentos; produtos oftalmológicos; químicos; aeronáutica; TI & games; carcinicultura; preparação de couro; e artesanato”.
Destes, os setores que predominam são o de cachaça (24 empresas), têxtil e confecção (20), TI e games (16), móveis (10) e alimentos e bebidas (nove). Essa performance é, principalmente, fruto do esforço da busca ativa do próprio núcleo. “Em cerca de 95% dos casos, a captação é resultado de um trabalho de prospecção da equipe, pois recebemos apenas cerca de seis contatos iniciados pela própria empresa”, diz ela. “Uma explicação para a falta de iniciativa por parte dos empresários pode ser também falta de conhecimento sobre o programa ou da execução dele no estado, ou mesmo falta de contato anterior com a área de comércio exterior”.
Preparação é fundamental
A globalização encurtou distâncias e para o comércio literalmente todo um mundo se abriu para produtores de locais que, anos antes, nunca imaginaram chegar tão longe. Mas esse passo não é simples: é preciso preparação e saber onde se está pisando. E o Peiex ajuda a se preparar. “O Peiex é um primeiro passo para o empresário ou a empresária que tem interesse em exportar de forma planejada e segura”, explica Márcia Paixão. “Na prática, corresponde a um processo de habilitar a empresa para atuar no comércio exterior ao familiarizar o empresário e seus colaboradores com um conjunto extenso e específico de conhecimentos da área”.
Esses conhecimentos envolvem, por exemplo, a identificação fiscal internacional da mercadoria, regras e exigências fiscais e técnicas do país-alvo, instituições brasileiras e estrangeiras que controlam ou apoiam as operações comerciais no exterior, entre outras. Complementando as ações do Peiex, a ApexBrasil desenvolve outras que favorecem a efetiva entrada das empresas brasileiras no comércio exterior, como o que a associação chama de projetos setoriais.
“Foi no âmbito de um deles que a ApexBrasil, em parceria com o Instituto Brasileiro de Cachaça (Ibrac) e com apoio da Fapesq-PB e do Núcleo Operacional Peiex, realizou a rodada de negócios internacionais em João Pessoa para o setor de cachaça em outubro. Em abril deste ano, teremos outra ação prática, multissetorial: a chamada ‘1ª Ação de Exportação’, que corresponde a uma rodada de negócios, desta vez com empresas comerciais exportadoras brasileiras”.
Cachaça paraibana mirando o mundo
A rodada de negócios internacionais realizada no âmbito do projeto setorial da ApexBrasil com o Ibrac envolveu, no evento Brasil Cachaças, sete importadores internacionais (três dos Estados Unidos, um da Itália, um da Bélgica, um da Alemanha e outro da Suíça). Foi uma prova de fogo para o produto paraibano.
“A cachaça paraibana foi altamente bem avaliada no que se refere ao mix de apresentação do produto – branca, envelhecida e blend –, à diversidade de tamanho e design das embalagens, ao sabor marcante e diferenciado, e também em relação à apresentação pela empresa de site e material técnico em inglês”, conta Márcia Paixão. “Agora, empresários do setor estão em conversação sobre realizar uma primeira exportação de forma conjunta, com o objetivo de reduzir os custos com frete internacional e procedimentos burocráticos e, dessa forma, ganhar competitividade também em preço”.
Ela acredita que, em breve, o mercado externo se abrirá de forma expressiva para a cachaça brasileira e paraibana. “É apenas uma questão de tempo para o produto se tornar mais conhecido”, afirma.
Mas outros produtos da Paraíba também apontam com força para entrar na briga pelo marcado externo. “Pelos critérios de brasilidade, inovação, sustentabilidade, design e qualidade, todas as empresas atendidas pelo Peiex-PB têm pelo menos um produto competitivo para exportação”, avalia a coordenadora. “Podemos considerar os setores têxtil e confecção e de TI e games com potencial para o mercado americano, o setor de alimentos e bebidas para a Europa e o setor de móveis para a América do Sul. Ainda, com potencial para o mercado africano, temos uma empresa produtora de máquinas e equipamentos agrícolas e ecológicos, com destaque para uma colhedora de palma forrageira”.