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Paraíba enfrenta evasão universitária com ações para garantir permanência dos estudantes

publicado: 25/08/2025 12h13, última modificação: 25/08/2025 12h13
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Fotos: Mateus de Medeiros
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Depois de conquistar a vaga em uma universidade, muitos estudantes se veem diante de um desafio: concluir os estudos. Na Paraíba, cerca de 37% dos alunos abandonam a graduação, muitas vezes por questões simples, mas essenciais, como alimentação, transporte e moradia. Para combater essa realidade, o Governo do Estado por meio da Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia, Inovação e Ensino Superior (Secties), criou o Programa Casa do Estudante - Bolsa Permanência, voltado a apoiar estudantes universitários em situação de vulnerabilidade socioeconômica.

O programa busca promover a permanência e o êxito acadêmico de alunos de graduação em instituições de ensino superior do estado, oferecendo suporte para despesas essenciais, como moradia, alimentação, transporte e materiais acadêmicos. Dentro desse programa, foi criado o Caminhos da Permanência, um ciclo de debates que envolve estudantes, professores, gestores e pesquisadores, com o objetivo de ouvir diretamente a comunidade acadêmica sobre os desafios enfrentados na trajetória universitária e construir soluções participativas para que mais alunos permaneçam e avancem nos cursos de graduação.

O programa amplia a assistência estudantil, superando modelos anteriores e garantindo equidade de gênero, inclusão e acesso a oportunidades em todas as regiões da Paraíba. Coordenado pela Secties, ele reforça o compromisso com a permanência qualificada no ensino superior, em consonância com os princípios da Política Nacional de Assistência Estudantil (PNAES).

O Ciclo de Debates Caminhos da Permanência tem o objetivo de fortalecer as políticas públicas de assistência estudantil no estado por meio de um processo de escuta e diálogo com estudantes, professores, gestores, técnicos e pesquisadores. A ação é oportuna dentro deste mês, quando está em execução a programação estadual do Agosto das Juventudes, como ressalta o secretário da Secties, Claudio Furtado.

“Dentro da programação 'Agosto das Juventudes' discutimos a permanência estudantil na graduação. Qual o cerne do problema? Que tipo de apoio um estudante precisa? Nesses ciclos de debates vamos olhar não só para o tópico da assistência estudantil, mas considerar todas as questões que influenciam na permanência deste no seu curso superior. Nossos esforços se concentram agora em criar espaços onde alunos, docentes, professores que ocupam cargos administrativos nas universidades e gestores públicos expressem os problemas para, junto com as instituições públicas, operacionalizarmos soluções."

A dinâmica do ciclo é extensa. O primeiro encontro ocorreu no campus V da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), em João Pessoa. O auditório estava lotado. O presidente da União Nacional dos Estudantes na Paraíba (UNE-PB), Fernando Alves, relatou que os estudantes estavam ansiosos por expressar alto e em bom som que “não há quem faça ciência com fome”.

Em contraposição à metáfora da condição humana na busca por significado filosófico existencial, extraída do conto “O artista da fome”, de Franz Kafka, as falas no debate se referiram às fragilidades de quem precisa se alimentar, ter um teto e colocar dinheiro no passe de ônibus.

Dado o pontapé inicial em João Pessoa, o evento percorrerá mais seis campi em datas diferentes: campi I (Campina Grande), III (Guarabira), IV (Catolé do Rocha) e VI (Patos) da UEPB e os campi I das Universidades Federais da Paraíba (UFPB) e de Campina Grande (UFCG).

Estratégia metodológica usada no ciclo

A estratégia do Ciclo Caminhos da Permanência inclui a construção participativa das pautas locais, registro sistemático das discussões e sugestões, produção de relatórios técnicos com encaminhamentos e interlocução direta com os setores responsáveis por políticas públicas.

Será utilizada a mesma metodologia em cada centro universitário: serão eleitas as prioridades e escolhidos dois representantes para compor um Grupo de Trabalho estadual. No final, serão definidas prioridades em uma plenária estadual a fim de concluir o Plano Estadual de Assistência Estudantil, o que consolidará as políticas públicas estaduais para o auxílio aos estudantes.

Durante a participação dos estudantes no primeiro encontro na UEPB em João Pessoa, a declaração da estudante de Relações Internacionais da UEPB, Iasmin Rodrigues foi categórica: “Pessoas como eu, de classe baixa, não são desejadas dentro da universidade por não ter condições de se manter.” Ela foi uma das eleitas para representar a UEPB/Campus V no Grupo de Trabalho. “É necessário que os estudantes tenham acesso à permanência na universidade pública, porque cada um tem uma realidade distinta. Essa é uma chance de transformar um projeto em realidade, incentivando cada vez mais estudantes a continuarem seus estudos”, reforçou.

Esse processo como um todo está ancorado pelo Decreto Estadual Nº 46.815, de julho de 2025 que dispõe sobre a instituição do Programa Casa do Estudante - Bolsa Permanência. O mesmo designa a Secties para executá-lo de maneira a atender “estudantes que estejam cursando a graduação em universidades públicas sediadas na Paraíba e que, comprovadamente, se encontrem em situação de vulnerabilidade socioeconômica, incluindo estudantes internacionais que atendam a esses critérios” (conforme o texto do decreto).

Com os encontros nesta primeira etapa, a Secties, através da Gerência Executiva de Assistência Estudantil, construirá com os estudantes as próximas etapas, com a perspectiva de alcançar os campi do IFPB e, com apoio direto das Pró-Reitorias de Assistência Estudantil da UEPB, UFPB, UFCG e IFPB, consolidar o ciclo como uma referência estadual no tema da permanência estudantil.

Participação dos estudantes e autoridades

Fernando Alves, diretor da UNE-PB, representou os estudantes na composição da mesa na abertura do Ciclo de Debates Caminho da Permanência, ao lado do secretário da Secties Claudio Furtado, do secretário executivo de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior Rubens Freire; do diretor do Campus V da UEPB, Vancardes Brito; de Shirleide Santos, pró-reitora adjunta de Assistência Estudantil (UEPB); Felipe Perantoni, diretor de Assistência Estudantil do Instituto Federal da Paraíba (IFPB); e Thulio Serrano, gerente executivo de Assistência Estudantil da Secties.

“Estar ao lado do professor Claudio, de pró-reitores de assistência estudantil, foi muito importante para apresentarmos nossas reais fraquezas e demonstrar que a realidade é basicamente a mesma, que todo mundo está lutando para que o estudante entre, permaneça e conclua o curso. É necessário esclarecer que bolsas de estudo para ciência e pesquisa não têm a mesma finalidade das bolsas de assistência estudantil. No momento, para nós, a ação mais efetiva é o acesso às bolsas para o restaurante universitário. Não há como estudar com um estômago doente”, frisa Fernando.

Ele próprio é exemplo: veio do interior do Ceará para cursar Matemática na UFPB, mora a onze horas de casa, encontra a família uma vez por ano e divide um apartamento com um colega longe da universidade. “Ter que encarar uma prova com todas essas pressões é muito complicado”, contou, agradecendo ao governador João Azevêdo por acreditar nos estudantes.