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MEIO AMBIENTE
Painel Paraibano abre caminho para Simpósio Nordestino sobre Mudanças Climáticas
Renato Félix
As mudanças climáticas são uma realidade e já atingem o Brasil a cada fenômeno climático extremo que passam a ser mais comuns do que em décadas anteriores. Por exemplo, as fortes chuvas que atingiram João Pessoa nesta temporada de outono-inverno, mas que causaram estragos especialmente em Recife. As políticas públicas são fundamentais para mitigar esses e outros efeitos, mas sobretudo a união coordenada de política públicas. O Painel Paraibano sobre Mudanças Climáticas – A Consciência pelo Conhecimento é um passo nesse sentido: realizado na quarta, 20, e quinta, 21, no Centro Cultural Ariano Suassuna, o evento reuniu entidades que mostraram suas pesquisas e ações a respeito desse tema. O próximo passo é uma reunião de âmbito regional, com o Simpósio Nordestino sobre Mudanças Climáticas, em novembro.
Para isso, será criado o Comitê Gestor Estadual sobre Mudanças Climáticas, com as entidades que participaram do painel. Uma primeira reunião que lançou a ideia aconteceu na tarde da quinta-feira, com a participação dos representantes das entidades presentes na ocasião. Mas em agosto, estas e outras serão formalmente convidadas pela Secretaria Executiva de Ciência e Tecnologia (SEC&T), que organizou o painel, para uma reunião que o fórum será formado.
“Iniciamos esse processo com um conjunto de lives sobre mudanças climáticas que estão disponíveis – e eu recomendo que a sociedade assista – no YouTube da Secretaria de Educação e da Ciência e Tecnologia”, explica Rubens Freire, secretário executivo de Ciência e Tecnologia. “Realizamos agora o painel paraibano e pretendemos evoluir para um encontro nordestino. Isso porque no âmbito do Nordeste nós temos o Consórcio Nordeste e estamos iniciando um processo de construção de políticas públicas sobre o impacto das mudanças climáticas na região”.
Algumas das entidades que participaram do evento são a Secretaria de Infraestrutura, dos Recursos Hídricos e do Meio Ambiente, a Sudema, a Assembleia Legislativa, a Prefeitura de João Pessoa, o Instituto Nacional do Semiárido (Insa), a Agência Executiva de Gestão das Águas da Paraíba (Aesa), a Cagepa, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Empaer, a Famup, a Embrapa, a Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (Fapesq-PB) e a universidades UFPB, UFCG, UEPB e IFPB.
Os dois dias tiveram apresentações de órgãos como a Embrapii, OAB, Embrapa, Iclei e Cagepa, que falaram um pouco de si e de como têm lidado com assuntos referentes ao clima. Mas, sobretudo, pesquisadores das universidades apresentaram seus trabalhos com enfoques variados a respeito de estudos ecológicos que impactam na mitigação às mudanças climáticas.
Entre os estudos apresentados, o público presente pôde conferir, entre outros: pesquisa sobre demandas hídricas em Guarabira; trabalhos em praças do bairro do Bessa, em João Pessoa, sobre plantas que nascem na área urbana; a cobertura da mídia nacional sobre o relatório da ONU sobre mudanças climáticas. Painéis no hall no auditório também exibiram os resultados desses pesquisas.
Lucena pode ganhar unidade de conservação
Um dos estudos apresentados é o trabalho do Projeto Mirarim, em Lucena, para a criação de uma unidade de conservação ambiental na cidade litorânea. O estudo é liderado pelo campus Cabedelo Centro do Instituto Federal da Paraíba (IFPB), em um posto avançado na cidade vizinha, com diversos parceiros, sejam governamentais ou ONGs da região.
“Esse projeto surgiu com o principal objetivo de criar uma unidade de conservação no litoral norte de Lucena, para inclusive apoiar o turismo de uma forma sustentável”, conta Cláudio Dybas, professor do campus de Cabedelo Centro e coordenador da unidade avançada de Lucena. “É uma região que tem atributos importantes. Tem índices de biodiversidade importantes, vários ecossistemas costeiros, como praias arenosas, estuário, manguezal, restinga... Além de ter uma beleza cênica maravilhosa – por isso mesmo a gente chama Mirante Natural do Rio Miriri. Tem tanta coisa acontecendo que é um laboratório ao ar livre”.
Cláudio Dybas, professor do IFPB, coordena o projeto Mirarim/ foto: Delmer Rodrigues
Para ele, a criação da unidade de conservação também seria uma saída a longo prazo para a ordenação do turismo na região. “Ele não tem controle nenhum e isso acarreta muitas consequências, muitos impactos no ambiente natural”, alerta. “A área tem potencial para todo tipo de turismo – turismo de aventura, caminhada, trakking, bike – mas a gente tem que pensar na coletividade”.
O projeto começou a ser gestado em 2017 por conta das visitas técnicas realizadas pelo IFPB com alunos de cursos de turismo e relacionados ao meio ambiente. Em consulta a analistas ambientais no ICMBio, ficou evidente a viabilidade da criação da unidade de conservação. “Um diagnóstico ambiental envolve muitas áreas, ele é multidisciplinar. Ao longo dos nossos levantamentos em campo, dos nossos diálogos institucionais, a gente viu que havia interesse do Governo da Paraíba criar uma unidade de conservação estadual ali”, conta o professor. “Então a gente se esforçou para entregar um produto técnico mais acabado possível. Ou seja: um relatório que desse condições a qualquer analista sustentar a criação dessa unidade de conservação”.
O relatório está finalizado, e está em uma revisão no ICMBio e possivelmente em duas semanas ele será encaminhado para a Secretaria de Estado da Infraestrutura, dos Recursos Hídricos e do Meio Ambiente para que o processo de criação prossiga.
Lives com especialistas continuam disponíveis
O Painel Paraibano sobre Mudanças Climáticas é uma decorrência da série de seis lives promovida pela Seect, através da SEC&T, que debateu o tema com especialistas brasileiros de renome internacional no tema. Essas lives, realizadas entre março e junho, continuam disponíveis no canal da Seect no YouTube, podendo ser assistidas a qualquer momento. Confira os convidados e os links de cada live:
1 – Paulo Artaxo, Professor do Instituto de Física da USP e integrante do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), órgão da Organização das Nações Unidas (ONU)
2 – Patrícia Pinho, Doutora em ecologia humana pela Universidade da Califórnia e diretora científica adjunta do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam)
3 – Clayton Campagnolla, consultor da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO)
4 – Jean Pierre Ometto, pesquisador sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe)
5 – Carlos Magno Lima, Professor do IFRN e doutor em ciências climáticas
6 – Ricardo Galvão, Professor do Instituto de Física da USP e ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais