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Nova descoberta arqueológica aproxima Paraíba dos 150 sítios registrados

publicado: 26/08/2024 10h00, última modificação: 28/08/2024 16h53
Atividades científicas em municípios da região do Sertão buscam preservar o patrimônio histórico e pré-histórico da Paraíba

Foto: João Rosa

A Paraíba pode chegar em breve ao marco de 150 sítios arqueológicos registrados. Isso porque o projeto de Atividades de Pesquisa, Educação Ambiental e Patrimonial na Bacia Sedimentar do Rio do Peixe (APEAP), encontrou vestígios de um novo sítio em sua área de pesquisa, que contempla os municípios São João do Rio do Peixe e Poço de José de Moura. O projeto é fomentado pela Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia, Inovação e Ensino Superior (Secties) em parceria com a Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (Fapesq).

Ao todo, o estado possui 149 sítios arqueológicos cadastrados no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), sendo uma das principais referências quando o assunto é Paleontologia e Arqueologia. O projeto da APEAP nasce, portanto, com o objetivo de estimular a pesquisa científica, a preservação e a difusão do patrimônio pré-histórico e histórico da Paraíba, seguindo a premissa dessas áreas.

Mais de R$ 70 mil foram investidos no projeto para as pesquisas na bacia sedimentar do Rio do Peixe. A ideia é desenvolver atividades nas áreas de prospecções paleontológicas na bacia sedimentar do Rio do Peixe; prospecções e salvamentos arqueológicos na bacia sedimentar do Rio do Peixe; Educação Patrimonial da bacia sedimentar do Rio do Peixe; e Educação Ambiental na área da bacia sedimentar do Rio do Peixe.

“Este é mais um exemplo de como o investimento em pesquisa e desenvolvimento científico impulsiona o conhecimento e o avanço do nosso Estado. O projeto é importante, porque vai realizar um levantamento dos sítios paleontológicos e arqueológicos já existentes naquela área”, destacou o secretário da Secties, Claudio Furtado.

O gestor reforça que esse tipo de investimento faz parte da política do governo João Azevêdo em levar melhorias para os equipamentos de Ciência, Tecnologia e Inovação do estado. Exemplo disso é esse incentivo no Vale dos Dinossauros, em Sousa, que traz melhorias para o turismo e também para a ciência, “culminando no trabalho para a transformação do parque Vale dos Dinossauros em um geoparque reconhecido pela Unesco”, justificou Furtado.

A iniciativa acontece em oito municípios paraibanos sendo eles Aparecida, Pombal, Santa Helena, Poço de José de Moura, São João do Rio do Peixe, Sousa, Triunfo e Uiraúna. Contudo, a primeira etapa do projeto selecionou apenas três para o início das pesquisas, sendo eles: Uiraúna, Sousa e São João do Rio do Peixe.

Foto: João RosaCom a pesquisa em campo desde o início de 2024, o projeto é coordenado pelo professor Juvandi Santos e             conta   com uma equipe de seis pesquisadores: a paleontóloga Juliana Carvalho, o historiador Thomas Bruno, o       arqueólogo João Rosa, o condutor Luiz Carlos, e a bolsista Aniele Rodrigues. Eles foram os responsáveis pela         descoberta recente em São João do Rio do Peixe e no Poço de José de Moura.

Para Juvandi, a meta é finalizar em dois anos um grande levantamento “para saber o que tem na área da bacia         sedimentar em termos de sítios paleontológicos e arqueológicos”. Além disso, também há a pretensão de “sugerir     à  Unesco a criação de um geoparque mundial para essa região", completou o coordenador-geral.

 O arqueólogo, João Rosa, destaca a importância de conhecer bem o local para que a pesquisa tenha sucesso.         “O   local do sítio já era de conhecimento do nosso condutor e visitamos dois sítios com pegadas no município de     São   João do Rio do Peixe e outro em Poço do José de Moura”, afirmou.

 João explica que, apesar de alguns desafios, como a perda de uma trilha de pegadas por erosão, a equipe               conseguiu confirmar mais uma área descoberta no sítio de Poço de José de Moura. Segundo ele, a região será         estudada em uma etapa posterior, onde será feita a avaliação do entorno, imagens aéreas e de alta resolução em   escala, além do georreferenciamento por satélite e registros tridimensionais das pegadas por meio de fotogrametria e scanner por infravermelho próximo. 

“Essa digitalização das pegadas não é invasiva e permite a geração de modelos 3D compartilháveis com outros pesquisadores de forma remota, além de possibilitar a criação de moldes em impressoras 3D”, complementou.

A relevância das descobertas para a ciência e a comunidade

Foto: João Rosa As descobertas recentes na região trazem um impacto significativo tanto para a comunidade científica quanto para a sociedade em geral. Um exemplo são as pegadas de dinossauro, que fornecem informações essenciais sobre a fauna que habitava o local milhões de anos atrás, auxiliando os paleontólogos a reconstruir o ecossistema e a compreender as mudanças climáticas ao longo do tempo geológico. 

Já as gravuras rupestres revelam aspectos da cultura, do cotidiano e das crenças dessas populações. Dessa forma as evidências  arqueológicas se  tornam fundamentais para que possamos compreender melhor a história da ocupação humana na América do Sul,  contribuindo também para a  construção de uma identidade cultural mais forte para a região. Tendo em vista que além do valor  científico, as descobertas também possuem  potencial turístico.

Para Juvandi Santos, a pesquisa vai além desse resgate histórico e cultural. Ela também tem a finalidade de conscientizar a  população sobre a  importância de se preservar esses ambientes e promover a educação ambiental e patrimonial. 

“Paralelo às atividades de prospecções, a gente vem realizando nos municípios as atividades de educação ambiental e patrimonial.  Ou seja, vamos às escolas, ministramos palestras e distribuímos folders explicativos. Também vamos levar os alunos para   conhecer  os sítios dos seus municípios e  entender a necessidade de se preservar esses locais”, enfatizou o professor.

A idealização de um Geoparque Mundial da Unesco

A transformação da Bacia Sedimentar do Rio do Peixe em um Geoparque Mundial da Unesco pode parecer um objetivo ambicioso,  mas é algo alcançável. O professor Juvandi Santos, coordenador-geral do projeto de Atividades de Pesquisa, Educação Ambiental e  Patrimonial na Bacia Sedimentar do Rio do Peixe (APEAP), destaca que o Geoparque Mundial é uma proposta que vai envolver  sítios  arqueológicos e paleontológicos nos oito municípios, que esse é um ‘sonho sonhado’ em conjunto e que, apesar da  dificuldade,  ele acredita que é possível. 

“É o nosso sonho a criação deste geoparque. A partir do momento que se tornar um parque mundial, a Unesco e outros órgãos mundiais vão se preocupar em guardar esse patrimônio”, explicou o professor.

Um geoparque é uma área geográfica delimitada que possui um patrimônio geológico de grande valor. Esse valor não se restringe apenas ao interesse turístico, mas também abrange aspectos científicos e educacionais. A criação e manutenção de um geoparque devem necessariamente envolver as comunidades locais.

De acordo com Juvandi,“o geoparque é, acima de tudo, social. Nós temos que envolver as comunidades, que é uma das exigências da UNESCO. Isso será espetacular para a sociedade, pois as pessoas poderão trabalhar, explorar turisticamente os sítios arqueológicos da região e ganhar dinheiro de forma sustentável”.

O vínculo com a Unesco faz com que a área ganha reconhecimento e atenção internacional, impactando diretamente na captação de investimentos para a pesquisa científica e em outros setores relacionados. E, para além disso, também há contribuição para a preservação do patrimônio geológico e cultural da região. “Não vai ser fácil, mas vamos primeiro realizar as atividades de pesquisa que já estão em andamento e envolver a sociedade nas comunidades seguindo sempre os trâmites legais”, finalizou Juvandi.