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Isolamento social revela as vantagens do home office
Márcia Dementshuk
“O mercado explodiu, semana passada. De repente, o confinamento começou, os alunos deixaram de ir pra escola, tem um calendário para ser cumprido e as instituições correram para a solução online”, falou Giovanni Farias, fundador de uma empresa de soluções para Educação à Distância. Na semana passada trafegaram pelo Brasil 11 terabytes por segundo (fonte: IX.br); a média anterior era em torno de 7,5 Tb/s. Quando a motivação é preservar a vida, as recomendações para o combate ao novo coronavírus são seguidas à risca pela maioria da população brasileira. O novo estilo de vida pegou a todos de surpresa. Quem estava preparado para atender à nova demanda que se abriu colhe rendimentos nas oportunidades.
Cloud, conectividade, atendimento, serviço - a transformação digital chacoalha quem mantém na gaveta projetos que trariam inovação tecnológica para a empresa. A resistência às mudanças é óbvia. Carlos Eduardo Novinho, CEO da Avati Aceleradora, diz que “em cinco anos trabalhando com diversas startups e empresas tradicionais que fizeram modelagem de negócio conosco, vejo que todas são resistentes a curar as principais dores dos clientes do seu segmento. As empresas reconhecem, mas fogem por acreditarem ser difícil de saná-las”.
De fato, implementar um processo de inovação não se faz de uma hora pra outra. A iminência do contágio letal foi muito mais veloz e só quem correu nessa velocidade foram os motoqueiros entregadores. É diferente quando a cultura da empresa nasce em ambiente digital.
Giovanni Farias se conectava em serviços virtuais desde antes do surgimento da Internet comercial (isso foi em 1995). Estudante na UFPB em Campina Grande, hoje UFCG, no curso de Engenharia Eletrônica, ele navegava pelos BBS, os Bulletins Board Systems, ambientes online formados por pessoas em qualquer lugar do mundo e acessíveis de qualquer lugar do mundo pelo computador. Conectava-se através de um modem adaptado ao computador ligado ao telefone “com fio” e um custo de ligação altíssimo - o pulso ainda pulsa.
Quando o primeiro provedor abriu em Campina Grande, Giovanni Farias começou estruturar sua empresa de cursos à distância pela rede de computadores - que ainda não era tão global. “Eu trabalhava em outras atividades, pois ainda não tinha demanda pela Internet. Mesmo assim, sempre apostei no digital”, disse Giovanni.
Em 2007, a G. Farias estava incubada no Parque Tecnológico da Paraíba, com funcionários trabalhando de vários lugares do país, quando Giovanni se deu conta de que a estrutura física não era mais necessária. “Eu mesmo viajava muito e trabalhava de onde estava. Fizemos uma experiência trabalhando “home office” e vimos que funcionava muito melhor”. Naquela época, quando ia fechar um negócio, omitia informar como era a operação da empresa: “essa estrutura não era bem visto pelos empresários”.
Demanda pelo serviço online aumenta 354%
Hoje a empresa de Giovanni Farias oferece um conjunto de soluções para instituições que querem entrar no sistema de Ensino à Distância. Com base no tráfego de dados da empresa, a demanda aumentou 345% em menos de uma semana. Não só os novos, mas também os clientes antigos ampliaram os serviços. Depois da ameaça pelo novo coronavírus, um de meus clientes antigos que tinha 3 mil estudantes à distância; agora está com 10 mil - todos os matriculados estão acompanhando as aulas pela Internet.
Segundo o empresário, uma das rupturas em direção à cultura de executar tarefas online no setor corporativo veio com a crise em 2008. “Muitos dos que tinham resistência à Educação à Distância, às videoconferências, ao trabalho remoto, cederam, pois tinham que cortar despesas e essa tecnologia resulta em economia.” Giovanni observa que nesse momento a transformação digital - por bem ou por mal - tem ser feita.
Dados em nuvem (cloud) são solução para empresas
Carlos Eduardo Novinho, da Avati Aceleradora, alerta: “Você não pode parar. Você tem que inovar. Você não pode fugir da principal dor do seu cliente.” Em tempos de trabalho remoto, a inovação se dá nas nuvens [de dados]! Uma das soluções mais básicas para a empresa é deixar acessíveis pela Internet os processos, documentos, projetos, serviços, conteúdos da empresa, tudo o que é necessário para o desenvolvimento do trabalho. E a nuvem, a “cloud”, como é conhecida, é uma das melhores alternativas.
“Há outros meios, como a empresa ter um equipamento dentro de sua unidade e executar esse serviço, mas os data centers (centro de dados), que dispõe de espaço para o armazenamento de grande quantidade de dados, são os mais indicados. Inclusive para pequenas e médias empresas que têm menos fôlego para investir em tecnologia”, explica Flávia Tabosa, gerente de Marketing da Hostdime, que fornece esse serviço.
De acordo com Flávia Tabosa, o serviço é oferecido por grandes empresas globais, mas a contratação de um serviço estabelecido no Brasil garante um custo inferior: “Primeiro, a empresa no exterior cobra em dólar e a variação para cima da moeda é um problema. Mas o que passa desapercebido é que contratar esse serviço fora do Brasil é uma importação e incide um imposto de 45%, o que inviabiliza o processo para o empreendedor”.
Transformação digital na prática: case empresarial
Assim como na grande parte do território brasileiro, a Faculdade Pernambucana de Saúde - FPS, a comunidade acadêmica discentes, docentes e técnico-administrativos - estão 100% home office.
Marcone Barros, Gerente de TI da FPS, diz que três fatores foram decisivos para esta rápida adaptação: “O primeiro é que nossas turmas são pequenas, possuem apenas 12 discentes, o segundo foi o fato dos docentes já conhecerem a plataforma de webconferência desde o ano passado e o terceiro é o suporte imediato de TI que disponibilizamos para apoiar os usuários em caso de dúvida. Desta forma, nós focamos apenas na elaboração de uma força tarefa para construirmos vídeos tutoriais para capilarizar o acesso a plataforma”.
Além disso a equipe da Biblioteca e do Laboratório de Recursos Digitais estão em interação com docentes e discentes para o apoio nesta nova rotina de estudos. Para os técnico-administrativos e Diretoria, o acesso aos sistemas e informações estão funcionando normalmente, a única diferença é que agora estão trabalhando em casa.
A transformação na área tecnológica iniciou em 2014, quando investimos mais de R$ 6 milhões; mas foi maior em 2019. “Realizamos uma pesquisa de maturidade digital e desenvolvemos um plano de ação que inclui garantir a capacidade de inovação e identificamos fragilidades. As soluções começaram a ser implementadas. A imigração para o serviço em nuvens foi gradual. Atualmente 94% estão em nuvem e a meta é aumentar para 98% até agosto de 2020.
O mundo é responsivo e as mudanças rápidas e constantes têm exigido que as organizações adotem o caminho da transformação digital. Mas as novas dinâmicas do mercado não estão centradas apenas nas TIC’s, é importante focar sempre na sociedade, no consumidor final; é através deles que os modelos organizacionais precisam ser repensados e reinventados.
Marcone Barros, CIO da Faculdade Pernambucana de Saúde - FPS