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Investimento do governo em pesquisa permite à UEPB desenvolver tecnologia para detectar metanol em bebidas
Com mais de 200 casos de intoxicação por metanol registrados no Brasil após ingestão de bebidas alcoólicas, pesquisadores da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) apresentaram uma solução inovadora capaz de identificar adulterações antes que uma crise sanitária se espalhe. O desenvolvimento da tecnologia, criado por professores e estudantes do Laboratório de Instrumentação Industrial (Lins), é resultado direto dos investimentos do Governo da Paraíba em ciência, tecnologia e inovação, que vêm fortalecendo a capacidade das universidades de oferecer respostas aos desafios de saúde pública.
O secretário de Estado da Ciência, Tecnologia, Inovação e Ensino Superior da Paraíba (Secties), Claudio Furtado, comentou sobre a importância histórica do momento. "A ciência sempre tem dado resposta para vários problemas que aparecem em momentos de crise. Foi assim durante a pandemia que deu respostas para a questão das vacinas em tempo recorde. E agora com essa questão de saúde pública que é a contaminação de metanol nas bebidas alcoólicas aqui no Brasil", afirmou.
A pesquisa financiada pelo governo estadual apresenta resultados expressivos, com uma taxa de acerto de 97% na determinação do percentual de metanol nas bebidas. Para Claudio, o caso mostra a necessidade de investimento contínuo em pesquisa científica. "A ciência está dando resposta a problemas da sociedade, dando retorno. Por isso a importância de se investir em ciência para que possa cada vez mais trazer retorno para a sociedade", ressaltou.
A pró-reitora de Pós Graduação e Pesquisa da UEPB, Nadja Oliveira enfatizou a importância do financiamento. "Ninguém faz nada sozinho. A Secretaria de Ciência e Tecnologia e Ensino Superior, através da Fapesq, vem investindo não só nos laboratórios de pesquisa para aquisição de equipamentos, mas também com bolsas de iniciação científica e programas de internacionalização", disse.
Segundo observou Claudio Furtado, o investimento deve acontecer ainda que, em alguns casos, os resultados apareçam apenas a longo prazo. "Mesmo que inicialmente você pense que às vezes um problema não tem retorno imediato, ele dá respostas à sociedade, como é o caso dessa pesquisa de metanol que vem demonstrar a importância desse grupo da UEPB nesse cenário agora de uma crise nacional", completou.
Graças a esse investimento contínuo, quando a crise do metanol ganhou repercussão nacional, a UEPB já tinha a tecnologia necessária para tentar mitigar os danos do problema. O principal é o teste colorimétrico, que tem maior acessibilidade. O método consiste em um dispositivo tipo canudo contendo reagentes químicos. Em contato com a bebida, o líquido sobe por capilaridade e altera a coloração na presença de metanol. A tecnologia foi criada para ser utilizada por distribuidores e estabelecimentos comerciais, após um treinamento adequado.
Com a crise sanitária, a pesquisa ganhou repercussão e foi destaque na mídia nacional. A equipe atualmente trabalha na proteção da propriedade intelectual das tecnologias desenvolvidas. O objetivo é incorporar os testes, especialmente o colorimétrico, nos protocolos de inspeção sanitária em todo o país. A proposta prevê que a análise se torne procedimento padrão em fábricas, distribuidoras e órgãos de fiscalização.
Além disso, paralelamente, a universidade estrutura programas de treinamento para que órgãos de regulamentação, distribuidores e proprietários de estabelecimentos possam utilizar a tecnologia com segurança e eficácia.
Entenda a pesquisa
A pesquisa começou em 2019, quando o Brasil ainda não imaginava enfrentar uma emergência sanitária desse tipo. Naquele período, o governo estadual, através da Secties e da Fapesq, já investia em pesquisa e inovação voltadas aos arranjos produtivos locais. O objetivo inicial focava na melhoria da qualidade da cachaça paraibana, tendo em vista que a Paraíba é o maior produtor de cachaça de alambique do Brasil.
O coordenador do Laboratório de Instrumentação Industrial (Lins) da UEPB, professor Railton de Oliveira ,explicou que, em 2023, a equipe publicou um artigo na Food Chemistry, revista de alto impacto na área de química, com fator próximo a 10. O estudo analisou 462 amostras de cachaças paraibanas não contaminadas. Em ambiente laboratorial controlado, os pesquisadores adicionaram adulterantes como etanol combustível, metanol e outros compostos.
"O objetivo foi verificar se uma tecnologia que combinava espectroscopia na região do infravermelho associado a processamento multivariado de dados seria capaz de distinguir as amostras não adulteradas daquelas adulteradas", explica Railton. A taxa de acerto alcançou 97%. "O método é muito assertivo, muito preciso e gera um indício com muita precisão de se há ou não contaminação na amostra", garante o pesquisador.
Investimentos da Paraíba em pesquisa
O destaque nacional do investimento da Paraíba em ciência também é visto nos dados. A Paraíba conquistou o 1º lugar do Nordeste e a vice-liderança do Brasil em investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), de acordo com o levantamento do Ranking de Competitividade dos Estados, divulgado pelo Centro de Liderança Pública (CLP).
De acordo com o ranking, a Paraíba atingiu a média de 80,9 em investimentos públicos em P&D. A pesquisa científica do Estado também foi destaque no levantamento, com uma média de 67,4, atingindo a 6ª posição no ranking do Brasil e a 3ª no Nordeste.
Esses indicativos fazem parte do pilar inovação, o responsável por levar a Paraíba a 11ª posição geral no ranking e a 1ª posição regional, com uma média de 69,3. Neste sentido, a Paraíba subiu cinco posições em nível nacional e duas em nível regional, em comparação com o ano anterior.
O professor Railton comentou sobre a importância que esses números revelam: "Isso demonstra a capacidade das universidades paraibanas e o compromisso com o desenvolvimento da tecnologia e o retorno que essa tecnologia deve ter para a sociedade."
Orientações
A recomendação do Ministério da Saúde, segundo publicação do ministro Alexandre Padilha, é que a população evite ingerir produtos destilados, sobretudo os incolores. Além disso, ele listou três orientações: certeza da procedência da bebida; alimentação e hidratação; se beber, não pode dirigir em hipótese nenhuma;
O professor Railton Oliveira reforçou a importância da população seguir essas orientações. "Minha orientação enquanto professor da universidade é que sigamos os protocolos e as orientações que o Ministério da Saúde, órgão extremamente competente, tem compartilhado para que as pessoas se protejam em relação às bebidas contaminadas”, disse.