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Deve sobrar vaga de trabalho na área de TI no próximo ano
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“Em 2020 vai acontecer um fato atípico e adverso. A taxa de empregabilidade no setor de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) será negativa. O número de vagas será tão alto que faltarão profissionais especializados e capacitados e as pessoas eram que ter dois empregos para suprir a demanda do mercado”. A previsão do empresário local Renato Rodrigues, CEO da Softcom Tecnologia, está baseada em indicadores concretos do crescimento do setor em João Pessoa. Entre 2016 e 2018, mais 121 empresas de TI começaram as atividades na capital paraibana. Nesse período, o faturamento de empresas desse setor cresceu 57% (dados da Secretaria Municipal da Receita de João Pessoa).
Nas universidades os estudantes encontram oportunidades de estágio e emprego muito antes de chegarem ao final do curso, quando era mais comum se encaminhar para o mercado de trabalho. “Eu dou aula tanto em universidade pública quanto privada, para turmas nos primeiros anos do curso de Ciência da Computação e nas duas eu observo que muitos alunos estão estagiando, prestando serviço ou até contratados, logo no início do curso. Na minha época de estudante, por volta de 2008, lembro que pouquíssimos colegas trabalhavam. Hoje é o inverso”, revela o professor de TI Leandro Figueiredo Alves.
Mas o receio do professor é que os estudantes se deslumbrem com o mercado e deixem de lado os estudos pois, para ele, é na universidade onde a pesquisa é aprofundada. “Os meninos estão começando a trabalhar cada vez mais cedo, assumindo 44 horas semanais, além da universidade, num ritmo exaustivo”, alerta Leandro Figueiredo. Por outro lado, os jovens realmente sentem a diferença quando entram no mercado de trabalho.
Antes de completar 18 anos Lucas Alves de Albuquerque e Macedo, cursando o 4º período de Ciência da Computação no Unipê, iniciou neste mês um estágio em uma empresa que produz sistemas para assinaturas digitais para Cartórios: “Eu tô aprendendo muito. São muitos desafios. Temos o ensino na universidade mas quando entramos no mercado vemos que é muito mais complexo. Na faculdade recebemos o que é dado mas no emprego estamos buscando o novo para não ficarmos pra trás.”
Mercado de TI está em ascensão na Paraíba
O empresário Filipe Mendes, CEO na HostDime, afirma que “vivemos um excelente momento no ecossistema de Tecnologia da Informação da Paraíba. Associações como a Sucesu, iniciativas privadas como a Fabwork e incentivos governamentais como o Extremotec, da PMJP, exerceram um papel importante para deixarmos de ser coadjuvantes. Sabemos disso quando passamos a sediar eventos internacionais como o IGF (Forum de Governança da Internet, em 2015) da ONU, assim como a chegada de gigantes globais como a Vtex, que sozinha abriu 100 vagas de trabalho diretos para o setor”.
Recentemente, grandes players internacionais como VTex, Conductor e Indra se instalaram em João Pessoa atraídas, principalmente, pela mão de obra qualificada, pela qualidade de vida, pela carga tributária adequada e a interação da comunidade, segundo o vereador pessoense Thiago Lucena, referência nacional em ações de inovação.
As quatro instituições de ensino superior públicas na Paraíba oferecem cursos em TI, além das particulares e ainda os cursos técnicos de Ensino Médio, que também preparam os jovens para o mercado de trabalho. A qualificação nos cursos superiores procura acompanhar as mudanças do mercado e implantam programas de extensão em TI e inovação, empresas júnior, laboratórios de desenvolvimento, entre outros.
Keilon Fernandes Aquino, 23 anos, obteve uma vaga no estágio na área que desejava, Garantia de qualidade do software, depois de participar da “Fábrica de Software”, o projeto de extensão do Unipê. “Eu ganhei experiência no projeto da universidade e agora vou desenvolver exatamente o que já domino. Mas não é fácil aguentar o ritmo. Depois das aulas pela manhã, a gente trabalha no projeto à tarde”, conta Keilon.
Os estudantes paraibanos se destacam em congressos nacionais. No Congresso Brasileiro de Informática da Educação, com mais de 700 participantes de todo o Brasil, realizado na última semana, em Brasília, os prêmios de melhores artigos científicos – 1º, 2º e 3º lugares – foram conquistados por graduandos da Licenciatura da Ciência da Computação, da UFPB, campus IV, em Rio Tinto.
Empreendedores apostam em empresas de base tecnológica
Além de grandes empresas se instalarem em João Pessoa, os paraibanos encaram o empreendedorismo em startups como uma alternativa de crescimento profissional. Segundo dados do Mapeamento de Comunidades Emergentes – Região Nordeste 2019, realizado pela ABStartup, há 43 startups ativas em João Pessoa e 15 em campina Grande.
Esses números tendem a aumentar. O Programa Centelha Paraíba, que visa estimular a criação de empreendimentos inovadores, iniciado em junho deste ano pela Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba (Fapesq-PB), recebeu 540 propostas, envolvendo 1.480 pessoas nas equipes, as quais passam por um processo de seleção até que, no final, ficarão 28, que receberão um subsídio de R$ 60 mil para ganharem fôlego e encararem a tração.
Segundo Suellen Finizola, analista de Projetos Técnicos da Fapesq que acompanha esse processo como mentora, o programa se encontra na fase 2, na qual 100 propostas estão selecionadas. “Mas no caso do empreendedorismo, a média de idade é mais alta. O Centelha PB registrou a maioria como tendo entre 31 a 35 anos e o nível acadêmico de graduação e pós-graduação”, informa Finizola.
O Centelha é promovido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e o Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), operada pela Fundação CERTI.
Planejamento e programas de RH garantem mão de obra qualificada
Para Filipe Mendes, CEO na HostDime, contratar continua sendo um dos maiores empecilhos para os empresários. Os melhores alunos emigram antes mesmo de terminar seus cursos em busca de melhores salários e condição de vida, além do que há uma escassez global de profissionais qualificados, principalmente as que são voltadas à inteligência artificial.
“Não se concebe mais ter a visão de que os estudos acabam e o trabalho começa. O que antes era um diferencial estar em atualização constante de novos conhecimentos, hoje é condição obrigatória para não perder seu trabalho para um humano ou um código”, alerta Filipe Mendes.
A demanda crescente por mão de obra qualificada em João Pessoa não assusta o empresário Renato Rodrigues. “Hoje nós não temos mais dificuldade para contratar porque instituímos várias frentes de ações: programas de estágios contínuos, com, no mínimo, 10 vagas, então, a cada três meses temos pessoas novas ingressando. Eles fazem um rodízio em vários setores, bem como nossos colaboradores. Assim podemos identificar novas habilidades e aproveitá-las melhor.”
“Temos parcerias com diversas universidades; iniciamos instalações de ‘Labs’, extensões da empresa em faculdades, levando projetos para esse ambiente. Realizamos hackathons, as maratonas de tecnologia. Não se pode estar em ‘modo de espera’, mas criando frentes e fontes para inspirar, cuidar bem das pessoas, atrair e reter. Assim, sempre se terá mão de obra qualificada.”