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Da Caatinga ao mercado de carbono: Paraíba avança em soluções sustentáveis com o BioInova

publicado: 10/11/2025 10h03, última modificação: 11/11/2025 11h38
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Enquanto o mundo volta os olhos para Belém do Pará, cidade que, a partir desta segunda-feira (10), sediará a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), a Paraíba tem uma agenda de sustentabilidade pautada pela ciência, tecnologia e inovação. Por trás dessa trajetória, a Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia, Inovação e Ensino Superior (Secties) vem se destacando com iniciativas que serão exploradas em uma série de reportagens produzidas originalmente para o jornal A União, que teve início nesse domingo (9).

“A sustentabilidade não é apenas uma meta ambiental, é uma estratégia de desenvolvimento. Quando investimos em ciência, tecnologia e inovação, estamos preparando a Paraíba para enfrentar os desafios do clima e, ao mesmo tempo, gerar oportunidades para as próximas gerações”, disse Cláudio Furtado, secretário de Estado da Ciência, Tecnologia, Inovação e Ensino Superior da Paraíba.

Um dos exemplos é o projeto BioInova – Inovações para o Desenvolvimento Sustentável, escolhido para abrir a série especial. A iniciativa, realizada em parceria com a Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba (Fapesq), a UEPB e UFPB, está mapeando e diagnosticando o estoque de carbono e a biomassa aérea do território paraibano, com destaque para a Caatinga, uma ecorregião. O projeto alia metodologias de campo a ferramentas de ciência de dados e inteligência artificial para mensurar o potencial de carbono da vegetação nativa e, assim, abrir caminho para a inserção do estado no mercado de créditos de carbono.

O professor Cleber Salimon, ecólogo da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), é um dos pesquisadores à frente do projeto. Ele explicou que a equipe vem desenvolvendo um mapa de estoque de carbono para todo o estado, com base em coletas de campo e dados de satélite. “Existem estimativas globais para florestas tropicais, mas não há dados detalhados para o semiárido. Estamos fazendo medições em áreas conservadas e degradadas, analisando diâmetro e altura das árvores para entender quanto carbono está armazenado na vegetação da Caatinga”, detalha.

O pesquisador destaca que a Caatinga da Paraíba, frequentemente subestimada, é uma floresta sazonalmente seca, com grande capacidade de regeneração. “Muitas áreas degradadas estão voltando a crescer. Nosso objetivo é compreender o quanto essas florestas estão absorvendo de carbono da atmosfera e incorporando à biomassa”, explica Cleber, ressaltando que o estudo fornece base científica para políticas de restauração e de compensação ambiental.

Além do viés ecológico, o BioInova se propõe a unir ciência e economia. “O projeto permite que municípios e proprietários rurais compreendam quanto carbono está estocado em suas áreas e, a partir disso, possam captar recursos por meio do mercado de créditos de carbono”, afirma Cleber. Ele lembra que essa é uma forma de aliar desenvolvimento econômico à conservação ambiental, beneficiando tanto os ecossistemas quanto as populações locais.

Para o professor, o investimento do Governo da Paraíba é “um sinal claro da percepção dos atuais gestores sobre a importância da conservação aliada à sustentabilidade econômica”. Ele reforça que as ações de restauração e manutenção da vegetação nativa trazem impactos diretos à agricultura: “Ter uma floresta, mesmo pequena, próxima à lavoura aumenta a produtividade, pois abelhas e vespas que vivem nesses ambientes polinizam as plantações. Setenta e cinco por cento dos alimentos vegetais que consumimos dependem de insetos polinizadores.”

Economia verde e governança ambiental

No eixo econômico do projeto, a professora Márcia Batista da Fonseca, do Departamento de Economia da UFPB, pesquisadora do Subprojeto 2 – Estudos sobre Aplicações considerando o mercado de crédito de carbono, atua na investigação dos aspectos financeiros e sociais dessa transição. Desde novembro de 2024, ela coordena uma equipe que analisa como o mercado de carbono pode se tornar uma fonte de renda sustentável para o Estado e seus agentes produtivos.

O primeiro resultado dessa etapa foi a criação do “Manual Mercado de Créditos de Carbono”, um guia inédito que explica de forma simples e acessível o funcionamento do mercado, seus mecanismos de precificação e possibilidades de participação. “Era preciso compreender como os créditos de carbono, que são certificados concedidos a empresas que reduzem emissões, poderiam ser negociados na Paraíba. Nosso manual tem esse papel de orientação e incentivo à participação da sociedade civil e do setor produtivo”, explica Márcia.

A segunda etapa da pesquisa, iniciada em março deste ano, busca entender como a população percebe o mercado de carbono e a preservação ambiental. Por meio de questionários aplicados em todo o estado, a equipe está identificando os determinantes socioeconômicos que influenciam o comportamento pró-ambiental. “Queremos saber de que forma renda, educação e contexto familiar interferem na percepção sobre sustentabilidade e na disposição das pessoas em participar de projetos de mitigação climática”, detalha a pesquisadora.

Segundo ela, os resultados poderão subsidiar novas políticas públicas ambientais, orientando incentivos à inserção de produtores, empresas e municípios no mercado de carbono.

Para Márcia Fonseca, o BioInova representa um marco para o desenvolvimento sustentável da Paraíba. “Nos últimos anos, o estado vem se destacando por suas baixas emissões líquidas de gases de efeito estufa, mas houve um crescimento expressivo entre 2022 e 2023, especialmente no setor de uso da terra. Nesse contexto, o BioInova traz uma resposta inovadora, oferecendo uma plataforma digital pública com mapas, relatórios e dados abertos que fortalecem a governança ambiental baseada em evidências científicas”, ressalta.

Ela enfatiza, ainda, que o projeto reflete a visão estratégica do governo em aliar ciência de ponta, inovação tecnológica e participação social. “Ao integrar dados de campo, inteligência artificial, economia e percepção social, o BioInova coloca a Paraíba em posição de destaque no cenário nacional, mostrando que é possível gerar benefícios ambientais, sociais e econômicos de forma articulada”, completa.

Para a pesquisadora, o fato de o Brasil sediar a COP 30 reforça o papel dos governos estaduais no incentivo à sustentabilidade. “Quando o governo assume a postura de condutor de investimentos ambientais, ele direciona comportamentos e inspira o setor privado. Em tempos de COP 30, é um privilégio ter projetos como o BioInova sendo executados na Paraíba”, afirma.